DOCUMENTO BASE DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE EDUCAÇÃO MATEMÁTICA: SUBSÍDIOS PARA A  DISCUSSÃO DE PROPOSTAS PARA OS CURSOS DE LICENCIATURA EM MATEMÁTICA, NO SEMINÁRIO NACIONAL DE LICENCIATURAS EM MATEMÁTICA. SALVADOR/ABRIL/2003.

 

1. FINALIDADE DO DOCUMENTO

O presente documento tem como propósito contribuir para as discussões sobre os cursos de Licenciatura em Matemática, ora em curso no Brasil. Elaborado a partir de uma série de documentos produzidos pelas Diretorias Regionais e contando com a colaboração de vários colegas, este documento representa um esforço de síntese provisória da SBEM e espera-se que seja debatido, reformulado, ampliado ou aprimorado pelos participantes do I Seminário Nacional de Licenciaturas em Matemática. Espera-se, através dessa dinâmica, obter um novo documento síntese que contemple o pensamento e as reivindicações da comunidade brasileira de educadores matemáticos.

Este documento deverá ser disponibilizado às instituições formadoras e a grupos de pesquisa interessados na temática, sendo um importante referencial para as reformulações curriculares dos cursos de licenciatura em Matemática e para a formulação de políticas públicas    junto ao CNE, à SESu/MEC e ao INEP, os quais também receberão o documento. 

Para aprofundar as discussões, neste Seminário, estão previstas duas mesas redondas para debater a temática e vários seminários de socialização e debate de resultados de pesquisas e de experiências na área de Educação Matemática referentes à formação inicial de professores de Matemática.

 

2. PROBLEMAS A SEREM ENFRENTADOS

Muitos dos problemas dos cursos de Licenciatura em Matemática são comuns a outras licenciaturas e estão explicitados no corpo da Resolução CNE/CP1. No campo institucional, destacam-se os problemas ocasionados pela submissão da proposta pedagógica do curso à organização institucional, o isolamento entre escolas de formação e distanciamento entre as instituições de formação de professores e os sistemas de ensino da educação básica.

Assim, no campo curricular, a gama de problemas é extensa, com especial destaque para a desconsideração do repertório de conhecimento dos ingressantes, a seleção de conteúdos para a constituição de competências profissionais e o seu tratamento inadequado, a falta de oportunidades para desenvolvimento cultural dos alunos, o tratamento restrito da atuação profissional limitando-a à sala de aula, a concepção restrita de prática, a inadequação do tratamento da pesquisa, a ausência de conteúdos relativos às tecnologias da informação e das comunicações, a desconsideração das especificidades próprias dos níveis e/ou modalidades de ensino em que são atendidos os alunos da educação básica (como a educação de jovens e adultos, por exemplo), entre outros.

A esses problemas de caráter geral agregam-se outros, específicos: a desarticulação quase que total entre os conhecimentos matemáticos e os conhecimentos pedagógicos e entre teoria e prática; as discutíveis concepções de Matemática e de ensino de Matemática que os cursos geralmente veiculam; o tratamento dos conteúdos pedagógicos descontextualizados e desprovidos de significados para os futuros professores de matemática, não conseguindo, assim, conquistar os alunos para sua importância; a não incorporação nos cursos das discussões e dos dados de pesquisa da área de Educação Matemática; uma Prática de Ensino e um Estágio Supervisionado, oferecidos geralmente na parte final dos cursos, realizados mediante práticas burocratizadas e pouco reflexivas que dissociam teoria e prática, trazendo pouca eficácia para a formação profissional dos alunos.

Dentre as principais críticas feitas aos cursos de formação de professores de Matemática, destacam-se as seguintes:

ü    A predominância da visão de Matemática como disciplina neutra, objetiva, abstrata, a-histórica e universal, sem relação com os entornos sócio-culturais em que ela é produzida, praticada e significada.

ü    A concepção de professor como transmissor oral, claro e ordenado dos conteúdos matemáticos veiculados pelos livros textos e outras fontes de informação.

ü    A concepção de aprendizagem como um processo que envolve, meramente, a atenção, a memorização, a fixação de conteúdos e o treino procedimental no tratamento da linguagem matemática através de exercícios mecânicos e repetitivos.

ü    A concepção de aluno como agente passivo e individual no processo de aprendizagem, concebido como processo acumulativo de apropriação de informações previamente selecionadas, hierarquizadas, ordenadas e apresentadas pelo professor.

ü    A crença generalizada de que as idéias prévias dos alunos constituem erros que devem ser eliminados por meio de instrução adequada.

ü    A adoção de uma concepção mecanicista de avaliação, baseada na crença de que existe  correspondência absoluta entre o que o aluno demonstra em provas e o conhecimento matemático que possui.

ü    A predominância de uma prática de organização curricular em que os objetivos, os conteúdos, a metodologia e a avaliação aparecem desarticulados e independentes.

ü    A ênfase nos aspectos instrumentais e procedimentais da matemática, procurando tornar os alunos hábeis no manejo mecânico de algoritmos.

ü    O uso privilegiado de exercícios e problemas tipo em detrimento de situações-problema e investigações matemáticas, colocando em jogo apenas um repertório de regras e procedimentos memorizados.

 

Enfrentar esses problemas é tarefa complexa que envolve a discussão de inúmeras questões: Quanta e qual Matemática deve saber um futuro professor de Matemática? Quais são os saberes matemáticos e os saberes didáticos que deve constituir? Como deve aprender Matemática aquele que, num futuro próximo, se dedicará a ensiná-la, profissionalmente? Como conseguir que os futuros docentes se tornem competentes no processo de transformar os conhecimentos matemáticos historicamente produzidos em saber matemático escolar relevante à formação intelectual dos alunos? Como provocar, desenvolver e sustentar um processo de reconversão epistemológica que permita aos futuros professores se libertarem de comportamentos, atitudes e crenças que têm contribuído para estigmatizar a Matemática? Qual deve ser o perfil dos que formarão os professores? O que define um professor de Matemática como profissional? Que conhecimentos profissionais são básicos e fundamentais para a formação professor de matemática e para a formação do formador de professores de matemática?

 

 

 

 

3. PONTO DE PARTIDA: DEFINIÇÃO DO PERFIL DE PROFESSOR DE MATEMÁTICA QUE SE DESEJA FORMAR

 

A formação do professor de Matemática pode ser concebido como um processo contínuo que se inicia bem antes do ingresso na Licenciatura, passa por um período intensivo e organizado de aprendizagem de conhecimentos fundamentais para o exercício da profissão docente, e continua a desenvolver-se, depois de formado, à medida que reflete sobre sua prática profissional e busca conhecimentos e alternativas para superar os problemas e desafios que encontra pela frente.

Essa concepção de formação do professor pode ajudar a definir o perfil de professor de Matemática exigido hoje. 

O professor de Matemática hoje deve ser um profissional com grande competência para formular questões que estimulem a reflexão de seus alunos, que possua sensibilidade para apreciar a originalidade e a diversidade na elaboração de hipóteses e de proposições de solução aos problemas.

Além disso, deve ser criativo para criar ambientes e situações de aprendizagem matematicamente ricos. Também terá que possuir uma ampla capacidade para dar resposta ao imprevisto e desenhar modelos que se adaptem às incertas e mutantes condições de aprendizagem que ocorrem nas aulas de Matemática.

Identificar os papéis a serem desempenhados por um professor de Matemática é tarefa essencial para delinear seu perfil. Em linhas gerais, esses papéis são os seguintes:

ü    propiciar situações ou estratégias para que seus alunos tenham oportunidade de comunicar idéias matemáticas;

ü    criar e desenvolver tarefas e desafios que estimulem os estudantes a coletar, organizar e analisar informações, resolver problemas e construir argumentações lógicas;

ü    estimular seus alunos para que busquem alcançar um conhecimento e uma compreensão da Matemática que seja consideravelmente superior aos níveis mínimos da alfabetização numérica;

ü    vincular a Matemática com outras áreas do conhecimento humano, especialmente as artísticas, de modo que seus alunos desenvolvam uma sensibilidade tal que lhes permita apreciar e desfrutar o poder e a beleza da Matemática;

ü    relacionar a Matemática com o entorno a fim de ajudar seus alunos na tarefa de compreender como a Matemática permeia nossa vida e como os diferentes ramos da Matemática estão interconectados;

ü    estimular seus alunos para o uso, natural e rotineiro, da tecnologia nos processos de ensinar, aprender e fazer matemática.

 

4. PRINCÍPIOS ORIENTADORES DAS MUDANÇAS A SEREM IMPLEMENTADAS

 

A formação de professores para o desempenho adequado desses papéis, requer mudanças substanciais nos programas desenhados para sua formação inicial (e continuada). A definição da qualidade de tais mudanças constitui parte dos desafios a serem enfrentados por aqueles que se dedicam à formação de professores.

Nessa perspectiva, a formação do professor de Matemática não pode ter como objetivo principal o acúmulo de informações. É fundamental que ele passe a ser um construtor de seu próprio conhecimento, numa perspectiva crítica, analítica e reflexiva, condição indispensável para a profissionalização do professor. Assim, ao longo da formação, é necessário o desenvolvimento de estratégias que permitam:

ü                    intercâmbio de saberes profissionais mediante a implementação de formas de intercâmbio entre colegas;

ü                    a criação de instâncias que permitam a interação com outros professores (reuniões de coordenação, de grupos de estudo e de investigação, encontros promovidos por sociedades científicas etc);

ü                    avaliação e revisão das formas de compreender e de proceder, a partir de processos de autocrítica, reflexão e metacognição dos processos desenvolvidos durante o exercício da ação docente (como por exemplo, o recurso da vídeoformação).

Por outro lado, tendo em vista as necessidades de formação matemática que se deseja para todos os cidadãos (alfabetização matemática) e a parte de responsabilidade que se atribui ao professor de Matemática nessa formação, é necessário um projeto de  formação inicial de professores que:

ü    contemple uma visão histórica e social da Matemática, numa perspectiva construtivista e problematizadora das idéias matemáticas, privilegiando os processos e não apenas os conhecimentos matemáticos formais;

ü    assuma uma concepção epistemológica e sociohistoricamente contextualizada do processo de produção de saberes que conduza a uma proposição metodológica e didática que adote as perspectivas de mudança conceitual e de mudança contextual, como opção para enfrentar os obstáculos epistemológicos constituídos pelas concepções (conhecimentos, crenças, atitudes) prévias dos estudantes

ü    experimente e modele situações semelhantes àquelas que os futuros professores terão que gerir.

Se todos esses aspectos são importantes, o último é de fato crucial. É preciso "ensinar os futuros docentes" da forma como desejamos que "eles ensinem no futuro". Isso significa que os cursos sejam desenvolvidos de modo a que os futuros professores:

ü    possam explorar, conjecturar, experimentar e comprovar suas habilidades, de tal forma que cheguem a estar realmente inseridos no processo de "fazer Matemática";

ü    percebam as relações entre os diferentes ramos da Matemática e desta com outras disciplinas;

ü    construam modelos matemáticos para representar os problemas e suas soluções;

ü    utilizem diferentes representações semióticas para uma mesma noção matemática, usando e transitando por representações simbólicas, gráficas, numéricas etc.

ü    Em resumo, pode-se destacar que os princípios básicos subjacentes a um currículo para a formação de professores, com vistas a garantir a alfabetização matemática de todos os cidadãos deve:

ü    conceber a Matemática como una ciência viva, aberta, com ampla participação nas sociedades contemporâneas.

ü    provocar nos futuros docentes mudanças conceituais e contextuais relativamente à Matemática que eles aprenderam no passado, ao longo de sua escolaridade e ao modo de como essa "aprendizagem" foi produzida;

ü    analisar, de forma articulada, os conteúdos matemáticos e sua didática.

ü    reconhecer o caráter de obstáculo epistemológico que possuem algumas das concepções prévias dos futuros professores, cristalizadas como produto de sua experiência anterior como estudantes de matemática;

ü    proporcionar oportunidades para experienciar vivencialmente processos de autoconstrução da compreensão matemática, enfatizando os processos próprios da construção matemática e de seus produtos.

 

 

5. A CONSTRUÇÃO DA IDENTIDADE 

 

Os cursos de Licenciatura em Matemática devem oferecer formação profissional, entendida como "preparação voltada para o atendimento das demandas de um exercício profissional específico que não seja uma formação genérica e nem apenas acadêmica". Isso pressupõe que o curso de Licenciatura em Matemática tenha identidade própria.

A identidade dos cursos deve ser construída com base em elementos constitutivos do processo de construção do conhecimento profissional como: vinculação da formação acadêmica com a prática profissional, ênfase no conhecimento didático-pedagógico da matemática a ser ensinada e promover, durante a licenciatura, práticas investigativas que promovam a articulação entre teoria e prática.  Tais elementos devem refletir-se na definição dos objetivos do curso, na eleição dos conteúdos da formação, na abordagem metodológica, na criação de diferentes tempos e espaços de vivência para os alunos, nas relações entre professores formadores e professores em formação, na  dinâmica da sala de aula, no processo de avaliação.

Uma peça fundamental para a construção de cursos de Licenciatura em Matemática com identidade própria é a qualidade do seu projeto pedagógico, a ser partilhado entre professores formadores e professores em formação, possibilitando a criação de um ambiente em  que o futuro professor de Matemática vivencie a construção coletiva de propostas pedagógicas, os modelos didáticos, os modos de organização que se pretende venham a ser concretizados na sua prática docente.

 

6. COMPETÊNCIAS PROFISSIONAIS E DESENHO CURRICULAR

 

Referendando as competências explicitadas na Resolução CNE/CP 1, os cursos de licenciatura em Matemática devem ter como objetivo, a constituição de competências profissionais referentes ao comprometimento com os valores inspiradores da sociedade democrática, à compreensão do papel social da escola, ao domínio do conhecimento pedagógico, ao conhecimento de processos de investigação que possibilitem o aperfeiçoamento da prática pedagógica, ao gerenciamento do próprio  desenvolvimento profissional e relativas ao domínio dos conteúdos matemáticos a serem socializados, de seus significados em diferentes contextos e de sua articulação interdisciplinar.

Para tanto, é necessário repensar os desenhos curriculares que vêm sustentando os cursos atuais. Um aspecto importante refere-se a propor atividades curriculares que favoreçam o desenvolvimento de uma cultura geral, incluindo o conhecimento de diferentes produções matemáticas, construídas historicamente. Integra essa cultura profissional tudo aquilo que é próprio da atuação do professor de Matemática no exercício da docência, como o conhecimento sobre: o papel do professor de matemática como educador; os problemas a serem enfrentados na região em que a instituição formadora se localiza; as tendências da educação matemática; enfim tudo o que possa potencializar a qualidade de sua intervenção educativa.

Essa reflexão deverá estar inserida em contextos mais amplos como a própria realidade social e política brasileira e suas questões educacionais, o papel social do professor, as leis relacionadas à infância, adolescência, educação e profissão, as questões da ética e da cidadania, etc. Também devem fazer parte desse rol de conhecimentos as políticas públicas da educação, os dados estatísticos, as relações da educação com o trabalho, as relações entre escola e sociedade e, ainda, a análise da escola como instituição – sua organização, relações internas e externas – concepção de comunidade escolar, gestão escolar democrática etc.

Temas próprios da docência como currículo e desenvolvimento curricular, transposição didática, contrato didático, planejamento, organização de tempo e espaço, gestão de classe, interação grupal, criação, realização e avaliação das situações didáticas, avaliação de aprendizagens dos alunos, consideração de suas especificidades, trabalho diversificado, relação professor-aluno, análises de situações educativas e de ensino complexas devem ser abordados de forma contextualizada para que tenham significado para o futuro professor de Matemática e não de forma meramente teórica e genérica. Também são importantes as pesquisas dos processos de aprendizagem dos alunos e os procedimentos para produção de conhecimento pedagógico pelo professor.

Entre as diferentes atividades curriculares que  contribuem para o desenvolvimento da competência leitora e escritora do futuro professor e que precisam ser incentivadas no seu processo de formação incluem-se o estudo de características de gêneros textuais e seus usos sociais e a produção de textos e o incentivo à leitura de revistas especializadas É necessário, também, que os cursos de formação ofereçam condições para que os futuros professores aprendam a usar tecnologias de informação e comunicação, cujo domínio é importante para a docência e para as demais dimensões da vida. Atividades curriculares precisam ser planejadas para que os estudantes dominem procedimentos básicos de uso do computador e analisem a aplicação dos meios de informação e comunicação na educação.

Devem ser oferecidas aos professores em formação oportunidades de se apropriarem e fazerem largo uso dos recursos da tecnologia da informação e da comunicação com a finalidade de ampliarem seu universo cultural e aperfeiçoarem sua proficiência no uso da língua materna, pelo  hábito de leitura e busca constante de informações. É importante que os professores em formação possam elaborar e desenvolver projetos pessoais de estudo e trabalho e empenhar-se em compartilhar a prática e produzir coletivamente, utilizando diferentes fontes e veículos de informação, adotando uma atitude de disponibilidade e flexibilidade para mudanças.

A pesquisa no âmbito do trabalho do professor está relacionada à construção de uma atitude cotidiana de busca de compreensão dos processos de aprendizagem e desenvolvimento de seus alunos e à autonomia na interpretação da realidade e dos conhecimentos que constituem seus objetos de ensino. Além dessa pesquisa centrada no processo de ensino e de aprendizagem dos conteúdos escolares na educação básica, é fundamental que o futuro professor conheça os métodos de investigação usados na construção dos saberes matemáticos e, especialmente, no desenvolvimento de pesquisas em Educação Matemática, com destaque para aquelas que focalizam o conhecimento, a experiência, a formação e o desenvolvimento profissional do professor de Matemática.

Os cursos de Licenciatura em Matemática devem constituir-se, fundamentalmente, em  espaços de construção coletiva de conhecimento sobre o ensino e a aprendizagem da Matemática; desse modo, a pesquisa constitui um conteúdo de aprendizagem na formação especialmente importante para a análise dos contextos em que se inserem as situações cotidianas da escola, para construção de conhecimentos que ela demanda e para a compreensão da própria implicação na tarefa de educar. Os cursos devem possibilitar que, ao longo de sua  formação inicial, o futuro professor aprenda a analisar a realidade para além das aparências, de modo que possa intervir nas múltiplas relações envolvidas nas diferentes situações educativas.

 

 

7. SELEÇÃO DE CONTEÚDOS E SUA ABORDAGEM

 

Nos cursos de Licenciatura em Matemática, os conteúdos selecionados devem ser organizados de forma que possam ser estabelecidas, pelo futuro professor, diferentes conexões entre os conhecimentos matemáticos e os conhecimentos pedagógicos, dos conhecimentos matemáticos entre si, de conhecimentos de natureza teórica e de natureza prática, conhecimentos matemáticos e conhecimentos de outras áreas de conhecimento etc. Conteúdos apresentados de forma estanque, isolados dos demais, têm pouca possibilidade de contribuir para uma formação consistente.  

É importante que os conteúdos sejam tratados de modo a que o futuro professor seja capaz de explorar situações-problema, procurar regularidades, fazer conjecturas, fazer generalizações, pensar de maneira lógica, comunicar-se matematicamente por meio de diferentes linguagens, conceber que a validade de uma afirmação está relacionada com a consistência da argumentação, compreender noções de conjectura, teorema, demonstração, examinar conseqüências do uso de diferentes definições, analisar erros cometidos e ensaiar estratégias alternativas, ter confiança pessoal em desenvolver atividades matemáticas e apreciar a estrutura abstrata que está presente na Matemática e sua função social.

 

7.1 OS TEMAS DA EDUCAÇÃO BÁSICA

Nos cursos de Licenciatura em Matemática, os conteúdos a serem abordados pelo futuro professor devem ser aprofundados nos seus aspectos epistemológicos e históricos e tratados de modo articulado com  conteúdos mais complexos da Matemática e também com suas didáticas específicas. O trabalho com os conteúdos da educação básica não devem ser tratados apenas como revisão daquilo que os futuros professores estudaram (ou não); é necessário construir um conhecimento consistente deles, inclusive as suas relações com outras disciplinas e adequá-los às atividades escolares próprias das diferentes etapas e modalidades da educação básica.

A compreensão do processo de aprendizagem dos conteúdos pelos alunos da educação básica e do processo de transposição didática depende de um domínio de conhecimentos matemáticos. A construção de situações didáticas que problematizem os conhecimentos prévios com os quais, a cada momento, crianças, jovens e adultos se aproximam dos conteúdos escolares, desafiando-os a novas aprendizagens, precisam ser tematizadas nos cursos de forma articulada com a construção dos conteúdos matemáticos.

Desse modo, os cursos de licenciatura devem adotar uma perspectiva que inclui a preparação para a docência, o que compreende: o tratamento especial aos conteúdos matemáticos da educação básica[1] com ênfase  no processo de construção desses conhecimentos, sua origem, seu desenvolvimento, em disciplinas específicas, em que os estudantes possam consolidar e ampliar conteúdos com os quais irão trabalhar no ensino básico a articulação desses conteúdos de forma articulada com sua didática.

 

7.2 - CONTEÚDOS AMPLIADORES DO CONHECIMENTO MATEMÁTICO

Nos cursos de Licenciatura em Matemática, os conteúdos do Cálculo Diferencial e Integral, da Análise Matemática, de Álgebra, de Geometria, de Estatística, de Combinatória, de Probabilidade etc,  devem ser selecionados de forma a possibilitar, ao professor em formação, conhecimento amplo, consistente e articulado da Matemática, colocando em destaque aspectos de sua construção histórica, suas aplicações em outras áreas, os principais métodos utilizados por matemáticos ao longo dos tempos, os avanços e os desafios atuais dessa área de conhecimento.

 

7.2.1 - SOBRE O CÁLCULO DIFERENCIAL E INTEGRAL

Uma avaliação mais consistente sobre quais conteúdos de Cálculo Diferencial e Integral a devem ser desenvolvidos na Licenciatura está vinculada ao destino profissional dos licenciados. A importância do Cálculo Diferencial e Integral na formação de um estudante de Matemática é indiscutível uma vez que, o desenvolvimento da Matemática pode se confundir-se com o desenvolvimento dessa sua subárea. Essa confusão pode ser historicamente confirmada ao se constatar que grandes problemas da Matemática puderam ser resolvidos com a evolução do Cálculo. Para exemplificar basta citarmos os três grandes problemas: da quadratura do círculo, da trissecção do ângulo e da duplicação do cubo. Algumas de suas noções como número real, infinito, continuidade, limite e função, estão sem dúvida no cerne dos conhecimentos da Matemática.

Com a certeza de que o ensino do Cálculo é vital para a formação de um matemático ou futuro professor de Matemática é importante questionar: Quais são as potencialidades principais do Cálculo a serem exploradas de modo a contribuir com uma formação sólida de um licenciado? Qual conteúdo do Cálculo deve ser priorizado num curso de Licenciatura?

Para destacar as potencialidades fundamentais do Cálculo a serem exploradas de modo a contribuir com uma formação sólida de um licenciado recorremos às palavras de Fischbein em seu artigo “A interação entre os componentes Formal, Algorítmico, e Intuitivo na atividade matemática:

“Essencialmente falando, matemática pode ser considerada sob dois pontos de vista: (a) matemática como um corpo de conhecimento rigoroso, formal e dedutivo como exposto em tratados e livros textos de alto nível; (b) matemática como uma atividade humana.

O fato de que o ideal da matemática é obter um corpo de conhecimento logicamente estruturado não exclui a necessidade de considerar matemática também como um processo criativo: Na verdade, o que pretendemos são estudantes para entender que matemática é, essencialmente, uma atividade humana, que matemática é inventada por entidades humanas. O processo de criação matemática implica momentos de iluminação, hesitação, aceitação, e refutação; muito freqüentemente séculos de esforços, sucessivas correções, e refinamentos. Os desejamos para ensinar não somente o formal, seqüências dedutivas de  resultados relacionados a um teorema mas também para serem capazes de produzir, por si próprio, afirmações matemáticas, para construírem as respectivas provas, para avaliarem não somente formalmente mas também intuitivamente a validade das proposições matemáticas”.

Além de destacar a matemática como atividade humana esse autor destaca a interação entre três componentes básicos da matemática; o formal, o algorítmico, a o intuitivo. Esses aspectos constituem potencialidades fundamentais a serem exploradas no ensino do Cálculo.

A discussão sobre esses aspectos é relevante tendo em vista o fato de que uma das maiores críticas ao ensino dessa disciplina é a de que ele acaba priorizando o aspecto algorítmico do Cálculo, provocando possíveis distorções na formação do estudante, futuro professor. Na opinião de Fischbein:

“O aspecto formal refere-se aos axiomas, definições, teoremas, e provas. O fato de que todas esses representam o cerne da matemática como uma ciência formal não implica que, quando ao analisar matemática como um processo humano eu não deva levar eles em conta. Axiomas, definições, teoremas e provas devem penetrar como componente ativos nos processos de raciocínio. Eles tem que ser inventados ou ensinados, organizados, verificados, e usados ativamente pelos estudantes.”

“O componente algorítmico. É uma mera ilusão acreditar que por conhecimento de axiomas, teoremas, provas e definições como eles são expostos formalmente em livros textos, alguém torna-se capaz de resolver problemas. Capacidades matemáticas são também armazenadas na forma de processos de resolução, teoricamente justificados, os quais devem ser ativamente treinados. Há uma concepção enganosa difundida na qual a matemática, se você a entende como um sistema de conceitos, você espontaneamente torna-se capaz de usá-los se resolver uma classe correspondente de problemas. Nós necessitamos de competência e não somente de compreensão, e competência pode ser adquirida somente pela prática, treino sistemático. O recíproco é também algumas vezes esquecido. Raciocínio matemático não pode ser reduzido a um sistema de procedimentos de resolução. O mais complexo sistema de competência mentais tornam-se frios e inativo quando tem que enfrentar uma situação não corriqueira. O estudante tem que fazer esforços com a justificativa formal de seus respectivos procedimentos. Além disso, procedimentos de solução que não são referenciados por uma justificativa formal explícita cedo ou tarde são esquecidos. A profunda simbiose entre significação e competência é a condição básica para produtivo, eficiente raciocinar em matemática.”

“O terceiro componente de um produtivo raciocinar matemático é intuição:  intuição cognitiva, compreensão intuitiva, solução intuitiva. Uma intuição cognitiva é um tipo de cognição que é aceita diretamente sem a sensação algum tipo de justificativa é requerida. Uma intuição cognitiva é então caracterizada, como evidente por si. Nós aceitamos como evidente por si, afirmações como: " O todo é maior que as partes". " Por um ponto fora de uma reta passa uma única reta paralela" " A menor distância entre dois pontos é um segmento de reta.

Sendo aparentemente evidente por si, cognição intuitivamente aceita tem um impacto coercitivo em nossas interpretações e estratégias de raciocínios. Cognição intuitiva pode algumas vezes estar em concordância com justificativas lógicas verdadeiras, mas algumas vezes pode estar em contradição. Consequentemente, intuições podem jogar um papel facilitador no processo instrucional, mas muito freqüentemente, contradições podem aparecer: intuições podem tornar obstáculos - obstáculos epistemológicos - no aprendizado nas resoluções de problemas ou nos processos de criação.”

O Cálculo é extremamente rico em noções em que a imbricação dos três aspectos citados por Fischbein estão, hora em conformidade e hora em contradição, o que deve ser levado em conta no ensino sob pena de causa de obstáculos. Noções como “todo e parte” nos conjuntos infinitos; do infinito atual; de número real, de limite por exemplo. Além desses três aspectos apontados por Fischbein, uma outra potencialidade do Cálculo é a diversidade de registros de representação em que seus conceitos são apresentados As três formas de representações semióticas: figurais, simbólicas e língua natural expressam noções do Cálculo, diferentemente da Álgebra por exemplo em que o registro simbólico é preponderante. A conversão de um registro a outro, bem como os tratamentos no interior de um mesmo registro, condições essenciais para a aprendizagem devem ser explorados. Um outro argumento em favor das potencialidades do Cálculo é seu caráter unificador, desde que seja adotada uma abordagem de ensino que leve em conta as diversas dimensões matemáticas de um dado conceito (no quadro da álgebra, da geometria analítica). Além do caráter unificador intra-matemática, as noções do Cálculo tem aplicações em diversas outras áreas do conhecimento (Física, Economia).

Com relação aos conteúdos do Cálculo que devem ser priorizados num curso de Licenciatura destacam-se: O estudo da Cardinalidade de Conjuntos. Números reais – uma primeira abordagem a partir da representação decimal. A classificação dos números reais em: algébricos e transcendentes. O estudo da densidade e continuidade dos números reais. A cardinalidade dos subconjuntos dos reais. A compreensão (leitura e interpretação) de gráficos cartesianos. Noção de função. Suas representações/tratamento e conversão de registros. Funções elementares. Função real de uma variável real, definida em conjuntos/definida em intervalos da reta. Ponto de acumulação de conjuntos. Limite. Continuidade. Derivabilidade. Integrabilidade/Riemann. Aplicações/derivada e integral. Estudo das seqüências numéricas/convergência. Alguns tópicos do Cálculo de funções reais de mais de uma variável real. Definição da função (diversos registros).Limite. Continuidade. Diferenciabilidade. Integrabilidade. Aplicações.

 

7.2.2 SOBRE A ÁLGEBRA

A reflexão sobre o ensino de álgebra nos cursos de licenciatura em Matemática pressupõe a análise de questões de relevância. Após a grande importância a ela atribuída nos anos sessenta, graças ao movimento  da Matemática Moderna, a Álgebra secundária perdeu paulatinamente espaço e é freqüentemente vista como um amontoado de símbolos de valor indiscernível. Aparentemente os professores estão despreparados para reverter essa visão, refletindo a incapacidade das licenciaturas em definir a vocação da álgebra no ensino básico de matemática. Paralelamente, sendo a álgebra caminho   para idéias  matematicamente significativas, pesquisas em Educação Matemática apontam que ela é freqüentemente um obstáculo para muitos. A nova posição sobre a álgebra do ensino básico, imposta pelos pressupostos construtivistas preconizados pelas políticas públicas, coloca desafios específicos sobre o ensino de álgebra na licenciatura. Esses pressupostos implicam uma revisão do conceito de "educação cientifica" e do processo de formação do professor privilegiando a unidade na diversidade de suas fases : formação inicial e continuada. O exame de documentos oficiais e institucionais revela a descontinuidade existente entre o ensino de álgebra - tal como está proposto - na educação básica e na licenciatura. Esses mesmos documentos enfatizam a necessidade de o professor ter "conhecimento sólido em matemática" e domínio sobre o assunto a ser ensinado. Para atingir essas metas, é necessário que os cursos de formação de professores revisitem  os conteúdos de álgebra do ensino básico, aprofundando-os em suas dimensões teórica e prática, a fim de que o professor possa decidir sobre sua relevância, em função da potencialidade de cada objeto de ensino tanto na formação do estudante como cidadão quanto em sua formação intelectual para estudos mais avançados.

O futuro professor deve ter oportunidades de ampliar sua visão sobre a Álgebra e suas funções, identificando-a como um uma das áreas de pesquisa mais importantes em Matemática, mas funcionando também como um fio unificador entre vários outros estudos matemáticos - geometria, teoria dos números, análise, topologia, matemática aplicada etc.

 

7.2.3 SOBRE A GEOMETRIA

É preciso romper com a idéia de que a geometria nos cursos de formação de professores seja predominantemente euclidiana, como normalmente ocorre: um semestre de geometria plana e um semestre de geometria espacial, quase sempre desvinculando metodologia e conteúdos.

Faz-se necessário trabalhar a geometria num universo mais amplo, envolvendo a geometria analítica (que quase sempre dá ênfase na analítica e deixa a parte geométrica relegada a um segundo plano), o desenho geométrico, a geometria descritiva, o próprio cálculo (que pouco explora os aspectos geométricos), a topologia dos espaços métricos e a geometria diferencial.

O curso de licenciatura em matemática deve propiciar condições para que o aluno desenvolva os conceitos básicos e fundamentais de geometria para que possa percebê-la nas suas principais dimensões:

-                       como visualização, construção e medida de figuras;

-                       como estudo do mundo físico;

-                       como veículo para representar outros conceitos matemáticos;

-                       como um exemplo de um sistema matemático(axiomático).

A Geometria deve ser trabalhada num contexto global, articulada com as diferentes disciplinas do curso, fazendo largo uso das tecnologias computacionais, de outras tecnologias, de materiais manipuláveis etc..

É importante ampliar os conhecimentos dos professores, dando destaque à geometria das transformações, às geometrias não-euclidianas e aos processos de conjecturar, argumentar, provar, evidenciando as diferenças entre uma geometria "experimental" e a geometria axiomática. 

É relevante a articulação do estudo de temas geométricas com o de teorias que buscam explicar o processo de construção do pensamento geométrico,  elaboradas por Piaget, pelos van Hiele entre outros.

 

7.2.4 SOBRE A ESTATÍSTICA, A ANÁLISE COMBINATÓRIA E A PROBABILIDADE

O estudo de tópicos de Estatística deve aprofundar conceitos e procedimentos estatísticos, destacando sua importância fundamental às tomadas de decisão diante de incertezas. É interessante trabalhar com situações contextualizadas, dados reais, fazendo uso de calculadoras e computadores e oferecer subsídios aos professores em formação para organizar, analisar e interpretar dados estatísticos sobre a educação brasileira e de analisar em especial dados relativos à realidade escolar mais próxima. Tópicos como população, censo e amostragem. Variáveis quantitativas e qualitativas, discretas e contínuas. Amostragens: aleatória simples, sistemática e estratificada. Inferências estatísticas. Medidas de tendência central e de medidas de dispersão. Construção, interpretação e análise de gráficos.

O estudo da Estatística deve permitir a construção de um repertório básico de conhecimentos das Ciências Sociais, incluindo a participação dos alunos em projetos de trabalho, para o levantamento de dados do próprio ensino de Matemática regional. O uso de softwares é fundamental.

Os estudos de conceitos e procedimentos de probabilidade e combinatória devem ser realizados dando ênfase à resolução de problemas e à sua ligação com a Estatística. Fatoriais. Princípio fundamental da contagem. Permutações. Arranjos e combinações. Distribuição de probabilidades. Probabilidade condicional. Independência. Binômio de Newton.

 

7.2.5 INTERFACES COM OUTRAS ÁREAS DO CONHECIMENTO

Nos cursos de Licenciatura, devem ser programadas atividades curriculares com o objetivo de proporcionar ao professor em formação, a construção de um repertório básico de conhecimentos sobre outras áreas do conhecimento, em particular das chamadas ciências da natureza, que lhes permitam o desenvolvimento de um trabalho interdisciplinar.

Assim, por exemplo, podem ser exploradas interfaces com a Física, referentes à Cinemática e Dinâmica e, em particular as Leis da Conservação do Momento e da Energia destacando-se os aspectos matemáticos subjacentes a eles. Também o estudo de grandezas e medidas físicas, reflexão e refração da luz, espelhos e lentes, instrumentos óticos, fundamentos da Eletrostática e Eletrodinâmica Clássicas, ondas, calor e acústica são temas interessantes de serem abordados.

Ainda na perspectiva de um trabalho interdisciplinar que o futuro professor deve estar preparado para realizar, é interessante que se aproprie de tópicos de Matemática Financeira, explorando interfaces da Matemática com a Economia e também técnicas de amostragem e testes de hipótese.

8. UMA INTERFACE MUITO ESPECIAL: EDUCAÇÃO E MATEMÁTICA

A Educação Matemática caracteriza-se como área de conhecimento e de estudos e tem se constituído na aproximação e diálogo entre várias disciplinas como Matemática, Psicologia, Sociologia, Lingüística, Epistemologia e a Ciência Cognitiva com produzindo resultados teóricos e práticos Estimular um amplo conhecimento da Educação Matemática, de suas motivações, dos conteúdos de suas investigações, das implicações e resultados sobre o ensino e a aprendizagem da Matemática significa dotar a formação do professor de matemática de um conteúdo que lhe é próprio.

Ao analisar a situação mundial da Educação Matemática e a Educação Matemática no Brasil, o futuro professor apropriar-se-á de diferentes campos de estudos existentes, como a resolução de problemas, a História da Matemática como recurso didático, o recurso às tecnologias da comunicação e informação, a etnomatemática, a modelagem etc..

O estudo das dimensões do sistema educacional brasileiro, que inclui a análise da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional e de outros documentos legais, deve aprofundar a análise de textos referentes à organização curricular geral e à organização curricular de Matemática, nas diferentes etapas da escolaridade básica, nos diferentes níveis do sistema escolar (federal, estadual, municipal) e nas unidades escolares.

É fundamental ainda focalizar o processo de desenvolvimento curricular, as variáveis que intervêm em sua formulação, as mudanças que ocorrem nos currículos. Analisando movimentos como o internacional "Matemática Moderna” e os impactos que provocou nas práticas de sala de aula e a implementação de diretrizes veiculadas por documentos oficiais e sua tradução nos livros didáticos, o futuro professor terá oportunidade de identificar as mudanças de visão sobre o  papel da Matemática no currículo e a formulação de objetivos gerais para seu ensino e identificar os desafios atuais do ensino de Matemática.

O estudo das diferentes teorias do conhecimento e da aprendizagem, as idéias de teóricos como Piaget, Vigotsky, Ausubel, dentre outros, deve ser realizado com objetivo descrever, explicar e problematizar as relações entre ensino e aprendizagem, assegurando aos futuros professores um conhecimento das teorias psicológicas sobre a aprendizagem que lhes permita compreender as diferentes concepções e práticas pedagógicas que ocorrem na situação escolar.

É importante que os alunos sejam incentivados a participar de  grupos de estudo, que escolherão um tema de pesquisa e desenvolverão um projeto de trabalho sob a orientação de um professor escolhido pelo grupo. Eles possibilitam a ampliação do conhecimento para além da área especifica e a interação dos diferentes conhecimentos, possibilitando abordagens mais significativas. Além disso, os grupos de estudo prepara o desenvolvimento de um trabalho de conclusão de curso.

Nos cursos de Licenciatura em matemática, o objetivo de desenvolver uma atitude investigativa frente à ação docente, requer a construção de procedimentos de pesquisa que permitam ao aluno analisar a prática de professores, explicitar os fundamentos teóricos que orientam as suas intervenções nas situações de ensino e de aprendizagem e sistematizar a investigação realizada, através da elaboração de registros organizados a partir de uma metodologia previamente estruturada. Assim, estudos relativos à definição de método e metodologia, à concepção de pesquisa, a abordagens qualitativas e quantitativas devem ser feitos de forma contextualizada, pela análise de pesquisas existentes na área de educação matemática.

9. A RELAÇÃO ENTRE TEORIA E PRÁTICA

O estágio supervisionado -  ES -  é instância privilegiada que permite a articulação entre o estudo teórico e os saberes práticos. Seu planejamento e organização devem ser feitos em etapas com características bem definidas.

Assim, num primeiro momento o ES proporcionaria a imersão do futuro professor no contexto profissional, por meio de atividades que focalizem os principais aspectos da gestão escolar como a elaboração da proposta pedagógica, do regimento escolar, a gestão dos recursos, a escolha dos materiais didáticos, o processo de avaliação e a organização dos ambientes de ensino, em especial no que se refere às classes de Matemática. Também é interessante tematizar a participação dos professores de Matemática em trabalhos coletivos na escola, em conselhos de classe e série, situações de encontro com os pais e comunidades entre outros e seu envolvimento na proposta pedagógica, regimento escolar, plano de gestão, plano de curso, plano de ensino etc. É importante que nas atividades propostas o futuro professor tenha oportunidade de observar e pesquisar os espaços de formação continuada de professores existentes no sistema de ensino local e também o ambiente educativo das escolas em que será feito o estágio, permitindo a ele realizar um primeiro estudo de caracterização do seu contexto de trabalho: escolas, salas de aula etc.

Num segundo momento, o ES tem como objetivo a análise reflexiva da prática, por meio de observação em salas de aula de Matemática do Ensino Fundamental e Médio. Nesta etapa, as atividades podem ser realizadas em classes do ensino fundamental, incluindo a análise dos princípios e critérios para seleção e organização dos conteúdos matemáticos adotados pelos professores do ensino fundamental, das formas usadas pelo professor no sentido de levantar e utilizar os conhecimentos prévios dos alunos, das diferentes dimensões do conteúdo: conceitos, procedimentos e atitudes. É importante que os estagiários analisem o uso de estratégias para atender às diferenças individuais de aprendizagem e a incorporação de alguns aspectos como a resolução de problemas, da história da Matemática, dos jogos, dos recursos tecnológicos.

Num terceiro momento, no ES terá ênfase a análise reflexiva da prática, por meio de observação em salas de aula de Matemática, em classes do ensino médio, incluindo atividades em que o estagiário possa analisar as formas de organização didática, identificando as que se contrapõem às práticas didáticas fragmentadas e desarticuladas e refletindo sobre a escolha de diferentes tipos de organização didática tais como: projetos de trabalho, seqüências didáticas etc. Devem merecer destaque, a análise dos princípios e critérios para seleção e organização dos conteúdos matemáticos, os contextos de interdisciplinaridade, as formas usadas pelo professor no sentido de levantar e utilizar os conhecimentos prévios dos alunos, a da incorporação de alguns aspectos como a resolução de problemas, da história da matemática, dos recursos tecnológicos.

Num quarto momento, no ES será feita a análise reflexiva da prática, por meio de observação e pesquisa em salas de aula de Matemática, em salas de aula de Jovens e Adultos, incluindo atividades em que o estagiário analise  princípios e critérios para seleção e organização dos conteúdos matemáticos nesta modalidade específica, as formas usadas pelo professor no sentido de levantar e utilizar os conhecimentos prévios dos alunos, especialmente em se tratando de alunos com experiências de vida e no mundo do trabalho.

Após essas etapas, o ES poderá voltar-se para a  preparação de ações de  regência, em salas de aula de Matemática no ensino fundamental regular e em classes de jovens e adultos. Para tanto, é importante, que o estagiário elabore um projeto de trabalho e/ou seqüência didática referente a um dado conteúdo de Matemática, partindo de uma pesquisa prévia para aprofundamento desse conteúdo, dos pontos de vista matemático e da didática procurando conjugar os interesses da sua formação com interesses manifestados pela instituição escolar e pelo professor da classe. Quanto ao desenvolvimento em sala de aula do trabalho planejado,  o estagiário deverá ter especial apoio do coordenador de estágio, do professor da própria escola e tendo colegas de turma como observadores. O estagiário deve ser orientado na elaboração de seu relatório, registrando suas vivências, destacando os problemas enfrentados, os resultados positivos e a avaliação de outros aspectos considerados relevantes de modo a produzir uma síntese que expresse suas reflexões sobre diferentes aspectos do desenvolvimento de um projeto pedagógico com o qual interagiu 

A Prática de Ensino dos cursos de Licenciatura em Matemática constitui, portanto, um espaço de aprofundamento teórico de diferentes aspectos do ensino de matemática que se completa com a realização do estágio. Neste rico momento da formação do professor conhecimentos teóricos e conhecimentos práticos se articulam, visando a uma reflexão e produção escrita. É necessário que essa disciplina não se configure como espaço isolado em que o estágio fique reduzido a algo fechado em si mesmo e desarticulado do restante do curso. Isso porque não é possível deixar ao futuro professor a tarefa de integrar e transpor o conhecimento sobre ensino e aprendizagem para o conhecimento na situação de ensino e aprendizagem, sem ter oportunidade de participar de uma reflexão coletiva e sistemática sobre esse processo.

Nessa perspectiva, o planejamento dos cursos de formação deve prever situações didáticas em que os futuros professores coloquem em uso os conhecimentos que aprenderem,  ao mesmo tempo em que possam mobilizar outros, de diferentes naturezas e oriundos de diferentes experiências, em diferentes tempos e espaços curriculares.

É importante destacar que todas as disciplinas que constituem o currículo de formação e não apenas as disciplinas pedagógicas têm sua dimensão prática. É essa dimensão prática que deve  ser permanentemente trabalhada tanto na perspectiva da sua aplicação no mundo social e natural quanto na perspectiva da sua didática.

As atividades  que caracterizam  a atuação coletiva e integrada dos formadores transcendem o estágio e têm como finalidade promover a articulação das diferentes práticas numa perspectiva interdisciplinar, com ênfase nos procedimentos de observação e reflexão para compreender e atuar em situações contextualizadas, tais como o registro de observações realizadas e a resolução de situações-problema características do cotidiano profissional. Esse contato com a prática profissional, não depende apenas da observação direta: a prática contextualizada pode “vir” até a escola de formação por meio das  tecnologias de informação – como computador e vídeo –, de narrativas orais e escritas de professores, de produções dos alunos, de situações simuladas e estudo de casos.

O estágio deve ser vivenciado ao longo de todo o curso de formação e com tempo suficiente para abordar as diferentes dimensões da atuação profissional. Deve acontecer desde o primeiro ano, reservando um período final para a docência compartilhada, sob a supervisão da escola de formação, preferencialmente na condição de assistente de professores experientes. 

Para tanto, é preciso organizar um projeto de estágio planejado e avaliado conjuntamente pela escola de formação e as escolas campos de estágio, com objetivos e tarefas claras e que as duas instituições assumam responsabilidades e se auxiliem mutuamente, o que pressupõe relações formais entre instituições de ensino e unidades dos sistemas de ensino. Esses “tempos na escola”  devem ser diferentes segundo os objetivos de cada momento da formação. Sendo assim, o estágio não pode ficar sob a responsabilidade de um único professor da escola de formação, mas envolve necessariamente uma atuação coletiva dos formadores.

 Em cada etapa deve ser priorizada a análise e discussão dos relatórios e diagnósticos realizados no estágio supervisionado, baseada no estudo de referências teóricas que possibilitem formular propostas para os problemas identificados relativamente à profissão docente de professor. É interessante estimular o uso da vídeo-formação, em que aspectos cotidianos da escola e da vida do professor podem ser trazidos à escola de formação. A escrita de memórias a partir de suas lembranças como alunos de matemática, é fundamental para lembrar como se sentiram na época em que viveram essas experiências, que influências esses momentos tiveram em suas escolhas profissionais. Outra atividade importante consiste na elaboração de um projeto individual de formação profissional, proporcionado ao futuro professor a possibilidade de construir competências para gerenciar sua própria formação, identificando suas deficiências, seus interesses e aprendendo a buscar informações necessárias. Esses projetos individuais devem ser socializados para que o grupo possa identificar interesses e necessidades comuns que podem originar a organização de grupos de estudos temáticos.

 Na Prática de Ensino é importante que os alunos discutam como fazer registros sobre o que aprendem, destacando sua opinião a respeito do que aprendem, os sucessos que obtêm, suas preocupações etc.. A elaboração de portfólio para registro das observações em sala da aula, a análise de livros didáticos e outros recursos utilizados, a análise de protocolos de alunos, discutir erros, para documentar estudos e pesquisas sobre os assuntos tematizados devem merecer especial atenção na prática de ensino. Fundamentos teóricos para análise dos princípios e critérios para seleção e organização dos conteúdos matemáticos, das formas usadas pelo professor no sentido de levantar e utilizar os conhecimentos prévios dos alunos, especialmente em se tratando de pessoas com experiências de vida e no mundo do trabalho, de como estão contempladas as diferentes dimensões do conteúdo: conceitos, procedimentos e atitudes, de como atender as diferenças individuais de aprendizagem são aspectos essenciais. Uma das atividades centrais da Prática de Ensino é a elaboração de projetos de trabalho e/ou de seqüências didáticas referente a um dado conteúdo de Matemática, partindo de uma pesquisa prévia para aprofundamento desse conteúdo, dos pontos de vista matemático e da didática.

 

 

10. OS DOCENTES DO CURSO DE LICENCIATURA EM MATEMÁTICA

Estudos em diversos países, apontam que o profissional da educação básica, principalmente nos seus primeiros anos profissionais, reproduz a prática de seus professores. O processo de escolarização, do Ensino Fundamental ao Superior, colabora para que o professor construa seus sistemas de crenças, concepções e representações sobre ensino de Matemática. Esses sistemas são reforçados, principalmente na licenciatura, diante de uma prática mais ou menos cristalizada e defendida por muitos professores que aí atuam de que não se deve ensinar conteúdos diferentes do de bacharelado e sim torná-los mais fracos, sem aprofundamento. O que se precisa é de uma mudança de foco, pois a questão não é essa. Não se trata de enfraquecer o conteúdo e sim de ensinar o que realmente é relevante e que  tenha significado e sentido para  a formação do professor de Matemática, garantindo assim sua aprendizagem e que esse saber passe a fazer parte de sua prática.

Repensar os cursos de licenciatura significa repensar também o perfil do formador de professores, de forma articulada. É importante que haja coerência entre o perfil do professor, o perfil do curso e o do profissional que se quer formar. Os professores deverão ser parte integrante do projeto pedagógico do curso. Defende-se que um dos aspectos fundamentais na implementação de um projeto pedagógico é o engajamento de todos os envolvidos no seu processo de construção: professores, estudantes e funcionários das instituições. Esse engajamento é reflexo de duas atitudes fundamentais: competência e compromisso.

O profissional ligado ao curso deve ter consciência que está formando um professor e para tal os diversos conteúdos tratados  devem instrumentalizar para o ensino. As questões relativas à política de educação nacional e, até mesmo de âmbito mundial, devem ser de seu conhecimento, bem como pesquisas na área de Matemática e Educação Matemática pertinentes aos assuntos que irá ministrar. Particularmente, os professores formadores de professores de matemática precisam ter um perfil mais adequado para o atendimento das novas exigências da legislação em vigor e desse novo projeto de formação de professores almejada por nossa comunidade. Igualmente, tenha conhecimentos dos documentos oficiais que discutem e norteiam a educação matemática no ensino básico.

Tal profissional deve estar aberto para discutir questões como avaliação, metodologia, práticas pedagógicas. É necessário que tenha o compromisso de romper com a compartimentalização das disciplinas e que se disponha a discutir com os colegas e buscar formas de conexões entre elas. Necessita também conhecer os problemas relativos à formação de professores e que, de alguma forma, tenha vivenciado, como professor ou pesquisador, o ambiente da educação básica.

Deve ter uma postura de diálogo com os alunos, valorizando seus conhecimentos prévios e o que eles esperam do curso. Deve ouvi-los e priorizar as perguntas ao invés das respostas. Deve ser um investigador, gostar de formular e resolver problemas e levar os alunos a aprender a aprender.

A equipe que atua num curso de formação de professores de Matemática deve ser formada por especialistas da área de Matemática, de profissionais da área de Educação Matemática, da área de Educação e demais áreas que integram o currículo. Dentre os profissionais da área de Educação Matemática, deve haver os que dominam a História da Matemática, Epistemologia, Didática da Matemática, Modelagem, etc.. É imprescindível que tenham formação, em nível de pós-graduação, adequada para discutir e refletir sobre Educação Matemática e que tenham disponibilidade para participar de instâncias, no âmbito do curso, de reflexão/discussão sobre as atividades aí desenvolvidas.

11. CONDIÇÕES POLÍTICAS E ESTRUTURAIS NECESSÁRIAS À IMPLEMENTAÇÃO DE UMA PROPOSTA DE FORMAÇÃO DE PROFESSORES DE MATEMÁTICA

Os educadores matemáticos defendem a necessidade de algumas condições e políticas estruturais necessárias à implementação de propostas de formação docente que contemplem as características delineadas neste documento, numa discussão conjunta com a Sociedade Brasileira de Educação Matemática.

Tais condições foram reunidas em três grupos: no primeiro grupo, estão reivindicações por ações políticas de valorização da profissão docente; no segundo grupo, foram reunidas disposições visando a melhoria das condições de trabalho do formador de professores; as condições apontadas no terceiro grupo referem-se à consideração das especificidades dos cursos de formação docente:

Valorização da profissão docente:

É essencial que às exigências de qualificação, de competência e de responsabilidade dos professores correspondam políticas salariais dignas e condições de trabalho adequadas para os docentes.

Entende-se ser indispensável que se agilize a revogação da lei que permite a habilitação para o magistério apenas com as 540 horas de complementação pedagógica, como mais um esforço em prol da constituição da identidade e da dignidade da profissão docente.

Condições de trabalho para o formador:

Para a viabilização de cursos de formação docente com uma qualidade compatível com as responsabilidades e os desafios do profissional que se vai formar, é necessário que se promova a implantação de uma política consistente de composição de corpo docente (em contraposição ao regime horista de trabalho ou a outros regimes que dificultam ou impedem um maior envolvimento dos formadores com as atividades de pesquisa, ensino e extensão das instituições em que trabalham).

As instituições formadoras devem incentivar a formação de grupos de estudos e pesquisas, com tempo adequado e remunerado para a pesquisa em todos os cursos de licenciatura.

É essencial que as instituições de ensino superior elaborem, discutam, implementem e continuamente avaliem o plano de carreira de seus docentes.

Como apoio à formação do formador, advoga-se a implantação de uma política nacional de formação de formadores em nível da pós-graduação, com programas e horários compatíveis com a realidade e a necessidade dos professores dos cursos de licenciatura.

No esforço de se garantir a qualidade dos trabalhos de inserção dos professores em formação na prática docente, considera-se essencial o estabelecimento de limites ao número de alunos por professor/orientador nas atividades de prática de ensino. Com essa mesma preocupação, propõe-se  a definição de condições especiais de trabalho para o professor da escola básica que recebe o estagiário dos cursos de licenciatura.

Consideração das especificidades dos cursos de formação docente:

Visando ao atendimento das especificidades dos cursos de licenciatura espera-se das universidades, pesquisadores, educadores das escolas básica e infantil, autores e editores, e meios de comunicação que se empenhem para o incremento da produção e da divulgação de livros e materiais didáticos voltados para a formação do docente com o perfil especificado neste documento.

Dos órgãos públicos, em diálogo com a comunidade, reivindica-se o estabelecimento, com clareza, de critérios de avaliação institucional dos cursos de licenciatura e aponta para a necessidade da presença de especialistas em licenciatura nas comissões de especialistas do governo, em todos os níveis.

Às instituições de ensino superior que oferecem curso de Licenciatura em Matemática, recomenda-se a realização de parcerias e convênios institucionais entre escolas de ensino superior e escolas de educação básica, que venham dar maior consistência ao trabalho de inserção inicial dos profissionais em formação na prática docente, ao mesmo tempo em que contribuam para a formação continuada dos professores da educação básica e promovam ou potencializem os espaços de discussão, produção e sistematização de conhecimento nessas escolas, contando com as contribuições da produção e dos profissionais das instituições de ensino superior.

12. O EXAME NACIONAL DE CURSOS E DEMAIS AVALIAÇÕES

Discutir no encontro a posição da SBEM e, se for o caso, acrescentar.

 

 

 

 

 



[1] Incluem-se aqui temas como: Números Naturais, Números Inteiros, Números Racionais, Números Reais e Números Complexos. Operações. Estudo dos sistemas lineares. Matrizes. Determinantes. Teoria dos Polinômios. Equações polinomiais. Funções da Álgebra. O curso visa a consolidar e ampliar conteúdos com os quais o professor trabalha nos ensinos fundamental e médio, enfatizando o processo de construção do  conhecimento matemático,  sua origem e seu desenvolvimento. Tópicos de conteúdo: Variação de grandezas. Função Polinomial do 1º grau. Função polinomial do 2º grau. Função modular. Função Exponencial. Função Logarítmica. Funções trigonométricas. Conteúdos de Geometria: Poliedros. Corpos Redondos. Planificações. Superfícies e Volumes. Geometria Plana: Segmentos. Ângulos. Triângulos. Perpendicularismo. Paralelismo. Quadriláteros. Outros Polígonos. Circunferência. Razões métricas e trigonométricas nos triângulos retângulos Transformações isométricas. Homotetias. Congruência. Semelhança. O raciocínio dedutivo. Os processos de argumentação e de prova.