Unidade 04

Espaços Vetoriais Euclidianos

 

 

4.1 PRODUTO INTERNO EM ESPAÇOS VETORIAIS

 

 

            Estamos interessados nesta seção em formalizar os conceitos de comprimento de um vetor e de ângulo entre dois vetores. Esses conceitos permitirão uma melhor compreensão do que seja uma base ortogonal e uma base ortonormal em um espaço vetorial e, principalmente, nos darão a noção de "medida" que nos leva a precisar conceitos como o de área, volume, distância, etc...

            Consideremos inicialmente o plano R2, munido de um referencial cartesiano ortogonal (eixos perpendiculares) e um ponto P (x, y). Vamos calcular a distância do ponto P à origem O (0, 0).

fig1.gif (1226 bytes)

 

Observando a figura e utilizando o teorema de Pitágoras, temos que . Podemos também, interpretar este resultado dizendo que o comprimento (que passaremos a chamar de norma) do vetor (x, y) é

.

 

 

            Por outro lado, se tivermos dois vetores u = (x1, y1) e v = (x2, y2), podemos definir um "produto" de u por v assim:

< u, v > = x1x2 + y1y2,

produto este chamado de produto escalar ou produto interno usual e que tem uma relação importante com a norma de um vetor v = (x, y):

.

            Se, ao invés de trabalharmos no R2, estivéssemos trabalhando no R3 (munidos de um referencial cartesiano ortogonal), teríamos encontrado uma expressão similar para o produto escalar:

< (x1, y1, z1), (x2, y2, z2) > = x1x2 + y1y2 + z1z2

e a mesma relação com a norma de um vetor v = (x, y, z)

.

            Voltando ao caso do plano, se tivéssemos trabalhando com um referencial não ortogonal (eixos não perpendiculares), e quiséssemos calcular a distância da origem até um ponto P (cujas coordenadas em relação ao referencial fossem (x, y) ), teríamos, usando o teorema de Pitágoras,

fig2.gif (1467 bytes)

Observe que, se usássemos o produto escalar
< (x
1, y1), (x2, y2) > = x1x2 + y1y2
neste caso não valeria a relação ,
mas ela passaria a valer se usássemos a seguinte regra para o produto:

 

< (x1, y1), (x2, y2) > = x1x2 + (cos a )x1+ (cos a )x2y1 + y1y2, pois

< v, v > = < (x, y), (x, y) > = x2 + (cos a ) xy + (cos a )yx + y2 = || v || 2

            Portanto, novamente a noção de distância poderia ser dada a partir de um produto interno de vetores.

            Concluímos destes exemplos, que o processo usado para se determinar "medidas" num espaço pode variar e, em cada caso, precisamos ser bem claros sobre qual produto interno estamos trabalhando.

 

4.1.1 Definição.      

           Seja V um espaço vetorial real. Um produto interno sobre V é uma função f : V x V® R que a cada par de vetores v1 e v2, associa um número              real, denotado por < v1, v2 > , e que satisfaz as seguintes propriedades:

            ( i ) < v, v > ³ 0, " v Î V, e < v, v > = 0 Û v = 0;

            ( ii) < a v1, v2 > = a < v1, v2 > , " a Î R;

            (iii) < v1 + v2, v3 > = < v1, v3 > + < v2, v3 > ;

            (iv) < v1, v2 > = < v2, v1 > .

 

4.1.2 Exemplo. V = R2; f ( (x1, y1), (x2, y2) ) = 2x1x2 + 5y1y2 é um produto interno sobre R2.

Para mostrar a veracidade da afirmação devemos provar as propriedades da definição 4.1.1. Sejam, então,

v1 = (x1, y1), v2 = (x2, y2), v3 = (x3, y3) e a Î R:

( i ) < v1, v1 > = < (x1, y1), (x1, y1) > =

e     < v1, v1 > = 0 Þ Û Û Û x1 = 0 e y1= 0 Û v1 = (0, 0).

( ii) < a v1, v2 > = < (a x1, a y1), (x2, y2) > = 2a x1x2 + 5a y1y2
= a (2x1x2 + 5y1y2)
= a < v
1, v2 >

 

(iii) < v1 + v2, v3 > = < (x1 + x2, y1y2), (x3, y3) > = 2(x1 + x2)x3 + 5(y1y2)y3
= (2x1x3 + 5y1y3) + (2x2x3 + 5y2y3)
= < v
1, v2 > + < v2, v3 >

 

(iv) < v1, v2 > = < (x1, y1), (x2, y2) > = 2x1x2 + 5y1y2 = 2x2x1 + 5y2y1
= < v2, v1 > .¨

 

4.1.3 Exemplo. Em Rn, o produto interno usual (ou escalar) é definido por:

< (x1, x2, ..., xn), (y1, y2, ..., yn) > = x1y1 + x2y2 + ... + xnyn.

Nota. Quando não há referência sobre o produto interno definido num espaço vetorial V, entendemos que sobre ele fica definido o produto interno usual.

 

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